terça-feira, 14 de maio de 2013

Conversa do Facebook

 

Eu conheci James Vickers quando tínhamos cerca de 12 anos. Eramos vizinhos de porta, e eu costumava ir lá fora ao meu quintal jogar futebol sozinho, chutando a bola contra o muro. Foi assim que eu o conheci. Demorei um pouco para perceber seu rostinho de óculos olhando para mim da janela de seu quarto. Quando eu o vi, acenei para ele. Ele acenou de volta e abriu a janela para conversar comigo.

Falamos sobre muitas coisas. Interesses, comida favorita, jogos, todo tipo de coisa. Eu perguntei a James se ele queria descer em meu quintal para jogar futebol comigo. Ele recusou educadamente, dizendo que ele havia sofrido terrivelmente com asma, entre outras doenças, e que seus pais absolutamente se recusavam a deixá-lo sair pra fora de casa, ou deixar que alguém entre lá. Ele me perguntou se eu tinha uma conta no Facebook, e disse que gostaria de me adicionar para mantermos contato.

Verifiquei meu Facebook mais tarde naquela noite e aceitei o pedido de James, e a partir daí, ficamos conversando. Desse dia em diante, foi basicamente assim que nossa amizade progrediu. Eu ia pra escola de manhã à tarde, chegava em casa, fazia meus deveres e ia direto pro Facebook. Tínhamos um horário especifico para conversarmos, já que seu pai usava o computador pra trabalhar até tarde. Nosso horário de encontro era exatamente às 2:00. Passávamos a madruga inteira conversando, e só íamos dormir quando começasse a amanhecer. Foi assim durante cerca de 5 anos. Infelizmente, as doenças de James levaram a melhor sobre ele, e ele acabou ficando muito doente.

Até que o inevitável aconteceu. Eu não falava com James no Facebook durante muitos dias. Até passava algum tempo no meu jardim, esperando que ele abrisse a janela e me deixasse saber que ele estava bem. Ele nunca o fez. Ao invés disso, seu pai veio até minha casa numa noite de sábado e me entregou um pequeno convite para um funeral. "Ele nos disse sobre o quanto você dois tinham em comum." Seu pai me disse. "Você era seu único amigo, até onde sabemos."

O funeral foi muito tocante. Eu fiz o meu melhor para segurar minhas lágrimas, mas completamente perdi o controle quando Fields of Gold (sua musica favorita) começou a tocar enquanto eles levavam o caixão de James para longe. Depois do funeral, ainda vestido com meu terno, decidi pegar uma cerveja e minha velha bola e sai pra brincar um pouco no mesmo jardim onde eu havia conhecido James, em sua homenagem. Senti-me estranho ao saber que a sala que ele usou para falar comigo pela primeira vez agora estava vazia e desocupada.

Mas por mais triste que eu me sentia, eu sabia que ele estava em um lugar melhor agora. Um lugar aonde suas aflições não iriam mais incomodá-lo. Porém, sua morte tinha chegado tão de repente que o funeral simplesmente não tinha feito com que a ficha caísse pra mim. Talvez eu precisasse de algum tipo de “fechamento”, apenas para ter certeza de que James realmente havia partido, e não iria mais voltar. Então, naquela mesma noite, eu entrei no Facebook, mais uma vez, abri a janela de conversa de James, e digitei: "Olá, James". Neste momento eu percebi o quanto estava sendo bobo, e prontamente me levantei da cadeira, fechei as janelas e fui me deitar na cama. Eu deixei meu Facebook aberto, apenas para o caso de algum dos meus amigos me enviar alguma mensagem importante, mas acabei pegando no sono.

Porém, quando acordei na madrugada do dia seguinte, vi algo que arrepiou os cabelos de minha nuca. A única luz acessa que se emitia no quarto era da tela do computador, e quando olhei pra tela, na janela de conversa de James ainda aberta, vi as palavras "Visualizada às 2:00".
 
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